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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Glória, a galinha

Ela ainda lembra quando estava no ovo, sendo chocada pela sua mãe. Era quentinho e ela se sentia protegida. E ia crescendo, crescendo até que o ovo começou a rachar e ela conheceu o mundo. Sua mãe sempre a aninhava debaixo de suas asas para dormir. Adorava brincar de correr pelo terreno da fazenda com os outros pintinhos, bicar minhocas, aprender a ciscar imitando as outras galinhas. Quando já era uma franguinha conheceu Fred, um galo vistoso, de crista grande e peitoral definido. E passou a ser uma das dez galinhas do haren de Fred. Todos os dias botava ovos que o patrão buscava para vender.
Certo dia chegou a fazenda um caminhão, contendo fornos e fogões  industriais, freezers e outros equipamentos que foram descarregados em um galpão recém construído pelo patrão. Depois desse dia via diariamente as galinhas mais velhas sendo levadas para esse galpão. Uma das primeiras foi sua mãe, que partiu feliz e na despedida mencionou que o galpão era um galinheiro de repouso, já que produzira tanto a vida inteira.
Nos dias que seguiram, o patrão não passava mais para recolher ovos, então ela entendeu que chegara a hora de ser mãe. E chocou seus ovos com todo amor que podia até nascerem seus pintinhos. Eram tão pequenos, tão frágeis. Ela deveria ser o porto seguro daquelas lindas criaturinhas. Conforme iam crescendo, sentia orgulho dos filhotes que ficavam cada dia mais vistosos.
E assim passavam-se os dias. Cuidando dos filhotes e vendo com certa desconfiança outras galinhas sendo levadas para o “galinheiro de repouso”. Até que um dia, estranhamente, não levaram só as mais velhas, levaram também alguns franguinhos pouco mais velhos que seus filhotes. Resolveu investigar.
Fez um pequeno vôo, esforçando-se ao máximo, já que suas asas não lhe permitiam voar muito alto. Mas foi o suficiente para alcançar a soleira da janela do galpão. E viu, com pavor estampado nos olhos, o patrão e alguns funcionários da fazenda matando e depenando as galinhas e frangos levados naquele dia. As galinhas eram preparadas ensopadas e os frangos colocados nos fornos para assar. Entrou em pânico e voltou correndo ao galinheiro para avisar os demais. Mas era tarde demais. Estavam levando seus filhotes. Ainda ouviu o patrão falando feliz para um dos funcionários: “Temos uma grande encomenda de frangos assados para amanhã. Terá festa na cidade.”
E no auge de sua tristeza se recolheu ao seu ninho, tentando se esconder do mundo e de si mesma. No seu ninho tentou botar um ovo. Pensou que talvez, se tivesse mais um filhote, um somente, que pudesse esconder do mundo e proteger, pudesse amenizar a sua dor. Mas não conseguiu. Nunca mais conseguiu.
Em uma noite fria resolveu que era hora de sair daquele lugar. Não conseguiria sobreviver ali, com a lembrança do trágico dia em que descobriu a verdade sobre o galpão. Fugindo, quem sabe conseguiria levar consigo apenas as boas lembranças.

Estilo musical: Romântica.
Música: Love in the Afternoon (Renato Russo).
Trabalho: dona de casa.

Love In The Afternoon
Composição : Renato Russo

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